
Peço Silêncio
Agora me deixem tranquilo.
Agora se acostumem sem mim.
Eu vou cerrar meus olhos.
Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.
Uma é o amor sem fim.
A segunda é ver o outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.
A terceira é o grave inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.
Em quarto lugar o verão
redondo como uma melancia.
A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem-amada,
não quero dormir sem teus olhos,
não quero ser sem que me olhes:
eu mudo a primavera
para que me sigas olhando.
Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.
Agora se querem, podem ir.
Vivi tanto que um dia
terão de por força me esquecer,
apagando-me do quadro-negro:
meu coração foi inteminável.
Porém porque peço silêncio
não creiam que vou morrer:
passa comigo o contrário:
sucede que vou viver.
Sucede que sou e que sigo.
Não será, pois lá bem dentro
de mim crescerão cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
porém a mãe terra é escura:
e dentro de mim sou escuro:
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue sozinha pelo campo.
Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.
Nunca me senti tão sonoro
nunca tive tantos beijos.
Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.
Me deixem só com o dia.
Peço licença para nascer.
De Estravagario
Quem ler o poema vai entender porque escolhi para terminar os posts especiais Neruda!
Ele tem um tom de despedida e recomeço ideal para a ocasião. É profundo e renovador.
A obra de Neruda é tão extensa e sensível que poderia dedicar muitos outros posts a ele. Mas decidi terminar por aqui para abrir espaço para outros versos.
Não deixem de admirar os poemas maravilhosos e universais de Neruda. Suas palavras merecem a eternidade.
Obrigada!
"y desde entonces soy porque tú eres,
y desde entonces eres, soy e somos
y por amor seré, serás, seremos"
y desde entonces eres, soy e somos
y por amor seré, serás, seremos"
Nick* Fabrini